sexta-feira, 30 de abril de 2010

segunda-feira, 26 de abril de 2010

elegia a um anel (e não só), em forma de prosa sentida

quando comecei a trabalhar na minha actual empresa, há sete anos atrás, era uma pessoa diferente.

vivia a um ritmo diferente - mais lento. usava o autocarro e as sapatilhas como principais meios de locomoção.

quando pegava numa tarefa, não pensava imediatamente na forma mais eficiente de a executar, empenhava-me "apenas" em fazê-la de forma perfeita. não começava pelas rubricas mais caras, mais polémicas ou mais do agrado do chefe: começava pelo início e terminava no fim, como quando se lê um livro.

qualquer relatório que saísse das minhas mãos era preparado com a diligência de quem sabia ser aquela uma contribuição importante para melhorar qualquer coisa no mundo.

quando comecei a trabalhar não bebia café; bebia chá, porque o café deixa-me ansiosa.

não compreendia as pessoas que usam o elevador e o carro para tudo, e depois passam horas no ginásio a carregar pesos.

não compreendia as pessoas que passam a semana a suspirar pela 6ª feira - como se se pudesse viver apenas dois dias em cada sete!...

...

mais tarde aprendi que os meus relatórios, muitas vezes, não serviam para nada, e que o café era necessário para aguentar um certo ritmo de trabalho e de reuniões no qual, verdade seja dita, mal sobra tempo para ir ao WC.

há quatro anos atrás, eu olhava através das paredes envidraçadas do escritório e sossegava a alma nas árvores lá fora - a vontade de partir o vidro e de correr por entre elas era tanta!... alguns meses depois, cortaram as árvores para construir uma nova fábrica que faliu antes sequer de abrir.

há não muito tempo atrás, eu entrava nesse mesmo escritório e perguntava-me se todas aquelas pessoas que lá trabalham terão noção de quão louco e inútil é o seu dia-a-dia, por entre facturas e e-mails e intermináveis listas de números.

...

ontem conheci um rapaz de 28 anos que sentia - presumo - o mesmo que eu. por isso demitiu-se do emprego que tinha e vai tirar seis meses da sua vida para dar a volta ao mundo. estava embriagado de excitação e também de algum receio, mas orgulhoso de si próprio - e todos nós, muitos mal o conhecendo, orgulhosos dele.

ontem, também, perdi no verde do englischer garten o meu anel da serpente, aquele que comprei há anos e que usei durante anos, e cuja ausência me faz sentir algo despida.

aquele que comprei para jamais me esquecer de um momento mágico, deitada na relva - numa outra relva, num outro país que não este - com os olhos postos no céu azul e o rufar dos tambores em redor. o mesmo anel que foi abençoado por uma das minhas amigas do coração e que eu sempre usei para nunca me esquecer da pessoa que fui nesse momento - calma, plena, feliz, em sintonia com o mundo. para que nunca me roubassem essa pessoa.

era o meu anel da renovação e da força interior.

sei que o perdi ontem porque era o momento de perdê-lo. não sei, ainda, o motivo.

sábado, 24 de abril de 2010

senda


se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
sê um arbusto no vale mas sê
o melhor arbusto à margem do regato.
sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
e dá alegria a algum caminho.

se não puderes ser uma estrada,
sê apenas uma senda,
se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
mas sê o melhor no que quer que sejas.

pablo neruda

sexta-feira, 23 de abril de 2010

...


"Escrever é fácil.
Você começa com uma maiúscula e termina com um ponto final.
No meio, coloca idéias."

pablo neruda

[está explicado.]


terça-feira, 20 de abril de 2010

alvorada


i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear;and whatever is done
by only me is your doing,my darling)

i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart(i carry it in my heart)


e.e. cummings

domingo, 18 de abril de 2010

nas margens de um lago


desde pequena que tenho um lado melancólico em mim, um véu que me estranha e afasta dos outros (embora também eles se escondam por detrás de véus e muitas vezes não o saibam).

dizia-me (e diz, ainda) a minha mãe que penso demasiado nas coisas. é paradoxal, pois se por um lado sempre aceitei facilmente as regras, por outro sempre questionei o sentido de as seguir. num jeito de obediência cativa.

colocar questões torna a vida muito complicada, especialmente se estas fluem no sentido da incompreensão relativamente ao que vemos à volta.

seguir a estrada comum é confortável, mas pouco recomendado àqueles que nasceram com o gene da insatisfação. causa náuseas, angústia e, não raras vezes, depressão.

seguir o caminho menos percorrido exige coragem... uma coragem que é virtude de poucos. a quem não a tem, resta-lhe debater-se numa revolta interior jamais passada à prática.

a alguns foi-lhes dado serem despreocupados e felizes.

a mim (e a tantos outros que vou conhecendo) foi-me dado questionar... e, muitas vezes, não compreender.

sábado, 17 de abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

o perfeito-menos-um

o perfeito-menos-um tem 68m², uma frente nascente e outra poente, 2 quartos e boa luminosidade.

a localização é excelente em termos de acesso ao emprego e ao centro da cidade. a zona é sossegada q.b. e há supermercados, farmácias, bancos etc etc nas redondezas.

o prédio não é novo e - calcanhar de aquiles - não tem elevador.

(estamos a falar de um quarto andar com pelo menos umas 60 escadas a serem subidas diariamente, e de uma potencial inquilina com histórico de dores lombares e rótulas deslocadas).

não é barato, mas nenhum outro dos que vi o era, propriamente...

tem uns pequenos arrumos na cave. garagem não, mas talvez se arranje no prédio ao lado.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

coisas de emigra 2: trazer rotinas inadequadas na bagagem

um destes dias vou ter que perder o hábito de secar o cabelo ao natural, especialmente quando estão 4ºC fora de casa.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

estou um bocado durona, hoje

em conversa, há pouco, com um rapaz da minha equipa que insiste em vir ter comigo a pedir-me decisões relativas a coisas acerca das quais não sabe depois dar-me os detalhes. a conversa no messenger acabou com ele a enviar-me um smiley envergonhado.

de manhã, em conversa por e-mail com uma miúda também da equipa, sobre a necessidade de alinharmos a informação internamente antes de falarmos com os clientes. recebi como resposta um "Yes, Madam."

ora, muito bem: um dia haveria de tornar-me numa chefa durona. esse dia, pelos vistos, é hoje.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

nunca um artigo sobre futebol me lembrou tanto uma ida ao talho


"O conjunto do Estádio da Luz tem três baixas para o jogo em Merseyside, sendo a mais sonante o argentino Javier Saviola (dedo de um pé), estando Weldon (coxa) e César Peixoto (joelho) também entre os indisponíveis para o embate da segunda mão.
(...)
Os defesas Martin Škrtel (metatarso), Fábio Aurélio (coxa) e Martin Kelly (joelho) estão lesionados, pelo que Benítez confessou que tem estado a testar "diversas combinações de jogadores" na preparação de um jogo que pode ser decisivo para o Liverpool (...)".

pergunto-me em que consistirão essas tais "diversas combinações de jogadores". coxa de um com metatarso do outro?

não deixa de ser um conceito interessante para puzzle humano. hmm...