quando comecei a trabalhar na minha actual empresa, há sete anos atrás, era uma pessoa diferente.
vivia a um ritmo diferente - mais lento. usava o autocarro e as sapatilhas como principais meios de locomoção.
quando pegava numa tarefa, não pensava imediatamente na forma mais eficiente de a executar, empenhava-me "apenas" em fazê-la de forma perfeita. não começava pelas rubricas mais caras, mais polémicas ou mais do agrado do chefe: começava pelo início e terminava no fim, como quando se lê um livro.
qualquer relatório que saísse das minhas mãos era preparado com a diligência de quem sabia ser aquela uma contribuição importante para melhorar qualquer coisa no mundo.
quando comecei a trabalhar não bebia café; bebia chá, porque o café deixa-me ansiosa.
não compreendia as pessoas que usam o elevador e o carro para tudo, e depois passam horas no ginásio a carregar pesos.
não compreendia as pessoas que passam a semana a suspirar pela 6ª feira - como se se pudesse viver apenas dois dias em cada sete!...
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mais tarde aprendi que os meus relatórios, muitas vezes, não serviam para nada, e que o café era necessário para aguentar um certo ritmo de trabalho e de reuniões no qual, verdade seja dita, mal sobra tempo para ir ao WC.
há quatro anos atrás, eu olhava através das paredes envidraçadas do escritório e sossegava a alma nas árvores lá fora - a vontade de partir o vidro e de correr por entre elas era tanta!... alguns meses depois, cortaram as árvores para construir uma nova fábrica que faliu antes sequer de abrir.
há não muito tempo atrás, eu entrava nesse mesmo escritório e perguntava-me se todas aquelas pessoas que lá trabalham terão noção de quão louco e inútil é o seu dia-a-dia, por entre facturas e e-mails e intermináveis listas de números.
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ontem conheci um rapaz de 28 anos que sentia - presumo - o mesmo que eu. por isso demitiu-se do emprego que tinha e vai tirar seis meses da sua vida para dar a volta ao mundo. estava embriagado de excitação e também de algum receio, mas orgulhoso de si próprio - e todos nós, muitos mal o conhecendo, orgulhosos dele.
ontem, também, perdi no verde do englischer garten o meu anel da serpente, aquele que comprei há anos e que usei durante anos, e cuja ausência me faz sentir algo despida.
aquele que comprei para jamais me esquecer de um momento mágico, deitada na relva - numa outra relva, num outro país que não este - com os olhos postos no céu azul e o rufar dos tambores em redor. o mesmo anel que foi abençoado por uma das minhas amigas do coração e que eu sempre usei para nunca me esquecer da pessoa que fui nesse momento - calma, plena, feliz, em sintonia com o mundo. para que nunca me roubassem essa pessoa.
era o meu anel da renovação e da força interior.
sei que o perdi ontem porque era o momento de perdê-lo. não sei, ainda, o motivo.
2 comentários:
espero que consigas encontrar um anel de substituição muito em breve...bjs.
ah, e invejo aquele rapaz de 28 anos...;-)
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