já foi tempo. em que ser trintona (ou trintinha) e solteir(a) era uma mácula, uma anormalidade.
"isso é coisa do século passado!", dirão talvez vocês, em especial os homens.
pois, mas não. pelo menos neste cantinho a norte de portugal, ser solteir(a) por opção é um privilégio apenas deste século, o vinte e um. e ainda não é para todas.
claro que há cada vez mais mulheres na casa dos 30 e ainda solteiras. e tantas outras que optam pela união de facto como alternativa ao casamento.
estou certa que todas estas mulheres aparentam ser atraentes, confiantes, bem-sucedidas.... enfim, fantásticas. e estou certa que elas próprias fazem questão de salientar que não precisam de homens para nada. têm a sua vida, os seus amigos, a sua carreira... príncipe encantado e filhos? claro, talvez um dia. mas não para já.
o problema é que, geralmente, essas super-mulheres são as primeiras a olhar-se ao espelho e a questionar-se: "o que há de errado comigo? porque é que não tenho ninguém?".
muitas se queixarão da pressão social, esquecendo-se que a raiz desse condicionamento está nas nas suas próprias cabeças. nas cabeças dessas mulheres lindas, fantásticas e independentes, que fazem questão de mostrar que não precisam de ninguém porque precisam muito de alguém. porque, sem um companheiro, sentem-se incompletas.
por isso digo que este fenómeno é ainda recente. é visível mas não está interiorizado nos corações. a solteirice disseminada acontece, simplesmente, porque cada vez somos mais exigentes. porque já não nos contentamos com o bom ou o morno ou o assim-assim. porque estamos convictas de que merecemos mais e melhor, e estamos dispostas a esperar por esse mais e melhor. a solteirice não se escolhe... acontece. e, portanto, aguarda-se pelo "tal"; e, enquanto se aguarda, há que mostrar que estamos muito bem assim, solteiras.
este ano (apenas este ano), aos 32, consegui finalmente abraçar a minha condição de solteira. a (quase) insustentável condição de saber que talvez não tenha sido feita para uma vida de casal, encaixada em determinados cânones, e que não há mal nenhum nisso.
se não preciso de homens para nada? claro que preciso! não sou uma pedra. sinto solidão, como toda a gente; gosto de partilhar momentos, conversas, carícias e gestos. mas confesso que não gosto de pensar a dois, de decidir a dois, de trocar o "eu" pelo "nós".
por enquanto, sou realmente solteir(a) por opção. porque recuso-me a estar com alguém na lassidão de quem não quer estar sozinha. porque tenho expectativas altas (íssimas) e portanto tenho que encarar que a probabilidade de encontrar alguém que me encha as medidas não é muito animadora.
mas hoje, FINALMENTE, estou em paz com essa opção. não digo que não queira um companheiro de longo prazo na minha vida. nem que não o venha a ter. nem sei, por exemplo, se terei filhos ou não.
mas estou preparada para a possibilidade de isso nunca acontecer. ou de demorar muito tempo. e entretanto, não vou ficar em compasso de espera, nem vou deixar de viver e de dar o melhor de mim aos que me rodeiam.
apesar do meu habitual cepticismo, continuo a acreditar no amor; apenas não acredito que este seja para todos, nem que tudo o que nos passa pelos olhos, diariamente, seja amor - longe disso.
também tento não criticar… cada um lida com a sua solidão como pode - e eu não sou exemplo de moralidade para ninguém. o essencial é ser-se honesto.
mas saber olhar ao espelho, sorrindo, e aceitando quem somos, com o fulgor dos nossos sonhos e a consciência das nossas limitações, é uma conquista diária.
e ser ainda capaz de aceitar o peso desta opção sem perder as asas que nos elevam para além de nós próprios… é uma dádiva.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
a insustentável leveza da singularidade
Etiquetas:
a vida neste planeta,
amores,
things that people do/say
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4 comentários:
Texto cristalino !
;)
Bonito, pá...
:)
obrigada... pá! :D aos dois!
beijinhos grandes
ms
:)
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